Fato histórico retratado sobre azulejos - Mosteiro de Alcobaça - Portugal - Foto iap

O PROGRESSO

(Comunicação do Espírito Alexandre Herculano - Livro "Do País da Luz" - volume 4) 

      A vida aí é uma longa teia de contingências, todas obedientes a um fim providencial: - o progresso em tudo. O progresso é o escopo a que a humanidade tem de visar através de todas as dificuldades e de todos os sofrimentos. O progresso, na sua maneira espiritual, para a vida eterna, e o progresso, na sua forma concreta, para a vida material terrena.

     O progresso para a vida espiritual é aquele que tem vindo aperfeiçoando os sentimentos humanos, tornando-os mais brandos, mais puros, mais resignados, mais amorosos na sua forma religiosa, para a comunicação com Deus, e mais sociáveis, mais bondosos, mais caritativos, mais afetuosos, na sua maneira social, nas relações dos homens entre si.

     O progresso para a vida material, em correlação permanente com o da vida do espírito, é aquele que tem vindo aperfeiçoando as condições daquela vida, para a tornar mais fácil, mais em harmonia com a leveza e perfeição da sentimentalidade e do bem-estar do homem.

     Estudado o fato do alto e no seu conjunto, vê-se com admiração que o mundo é uma máquina de perfeição inexcedível, onde todas as peças trabalham com inteira precisão para se atingir aquele desejado fim: - o Progresso.

     Os atos do homem, quer sejam os que ele conscientemente executa como manifestação natural da sua vida, quer os inconscientemente praticados, como instrumento forçado de energias que não conhece, de inteligências que não vê, de acontecimentos que não pressente, são sempre a revelação sintética do meio em que aciona e da perfeição atingida por esse meio e por ele. Tudo está harmonizado por modo a que só se possa sair desse meio gradualmente.

     Há, entretanto, casos aparentemente divergentes desta lei. Encontram-se, naturalmente, pessoas bondosas, regularmente perfeitas, vivendo em um meio mau, como há pessoas naturalmente más, naturalmente imperfeitas, vivendo em um meio bom. Tanto umas como outras chocam pelo contraste. Porém, são ali necessárias. São exemplos vivos. As boas exemplificam aos maus as vantagens da perfeição, ensinam a praticar e a amar a bondade. São instrumentos suaves de correção e de melhoramento. São almas em abnegado apostolado nos meios atrasados.

     As más são o exemplo vivo e permanente das qualidades e dos defeitos que devem evitar-se; são, por vezes, o flagelo a punir desmandos que não deveriam existir, mas existem, nos meios em que elas se desenvolvem. São a advertência, para afastar do caminho pernicioso, ou são uma punição indireta, para aqueles com quem elas convivem, de fatos que perecem essa justa punição. Para, em qualquer situação, o progresso se manifestar, são necessárias a ordem, a paz e a conformidade das coisas. Imagine-se que em uma academia se reuniam sábios para apreciar e estudar um alto problema científico ou social. Se eles, compenetrados da gravidade serena da sua missão, de seu caráter, da sua posição, falassem e resolvessem com a majestade devida, toda a gente os acataria com respeito e solenidade, e ninguém ousaria ir perturbar com chocarrices a seriedade do ato. Mas, se esses sábios entrassem em chocarrices impróprias do lugar, da sua posição e de suas individualidades, se se desmanchassem nas suas maneiras e nos seus dizeres, a nivelarem-se com criaturas inferiores, veriam logo criaturas destas intrometerem-se na sua ação, tratá-los com degradante camaradagem. Ao contrário, se, em uma saturnal1 de desordem e de vício, em um recinto onde a multidão folgue e tripudie por modo pouco decente, entrar uma pessoa grave, de seriedade conhecida, de bondade proverbial mas severa, ver-se-á que tudo se confunde de vergonha, tudo para, tudo se aquieta respeitosamente, prestando assim, insensivelmente, homenagem às qualidades superiores, às virtudes, que com a simples apresentação se impõem.

     Este fato, que assim sintetizei, reproduz-se constantemente aos nossos e aos vossos olhos, em todos os atos da vida.

     O inferior - seja qual for a inferioridade em que se encontre - manifesta sempre, consciente ou inconsciente, o seu acatamento e o seu respeito àquele que lhe manifesta justa superioridade. Esta superioridade é o grande progresso já alcançado pelo que a possui e aquele acatamento manifestou um ato de progresso, um ato perfeito de correção.

     Tudo aí na vida terrena tende a progredir. Um indivíduo é sempre mais sabedor no momento seguinte, que no momento anterior. Em cada instante da vida, cai, no cérebro de cada um, um conhecimento novo. Cai insensivelmente, como insensivelmente se lhe agregam ou desagregam as moléculas cósmicas da matéria. É que a lei universal é a de que tudo progrida, até atingir um limite naturalmente fixado em cada meio e a cada coisa.

     A flor e o fruto progridem até atingir a sua maturação; o homem progride, na sua maneira física, até ao limite, à craveira normal e inultrapassável de homem; na sua maneira espiritual e moral, até atingir o limite fixado ao meio em que inicialmente começou a agir.

     O selvagem evoluciona dentro do seu meio, até poder sair dele. O campônio, o simples, o artífice evolucionam até poderem ser incompatíveis com os meios em que vivem. À proporção que suas almas se aperfeiçoem, seus cérebros se plenem de conhecimentos, sua educação e sua ilustração aumentem, eles vão conhecendo a estreiteza sufocante do meio em que vivem e, naturalmente, como consequência inevitável de seu mérito e de seu trabalho, avançarão para os meios que lhes ficam imediatamente superiores.

     O seu ingresso súbito e naturalmente inesperado em um meio mais avançado, contrariando o marcha normal de seu progresso, choca, perturba. É considerado um corpo estranho. Por um esforço enorme terá de aclimar-se, ou será naturalmente expelido, ou eliminado. Assim também um indivíduo espiritualmente ou socialmente avançado, caindo, por mercê de acontecimentos anormais, em um meio mais atrasado, terá que rebaixar-se a esse meio, integrando-se nele pela perda acidental e temporária das qualidades superiores que anteriormente possuísse.

     A marcha do progresso é uma lei indiscutível; mas faz-se gradualmente, naturalmente, sem solavancos, sem saltos. O que tentar contrariar esta lei será oportunamente reposto no seu verdadeiro lugar. Não queira ninguém as coisas fora de tempo e local próprio. Será desejo baldo. Pode acelerar-se ou demorar-se a marcha, momentaneamente, aos acontecimentos; mas não impedi-la. Esta lei tem aplicação a todos os casos da vida, quer eles se deem na vida animal, na vida espiritual, ou na vida social do homem, quer na vida das sociedades, das nações do mundo.

     Todo esforço que se empregar para produzir um fato, se este fato não estiver de antemão preparado para dar-se no meio em que se opera, será com pura perda de energia e de tempo. Se artificialmente se consegue, rapidamente se aniquila, por falta da adaptação.

     Assim, cada homem e cada povo deve trabalhar para o seu avanço progressivo; mas de forma serena, metódica e gradual. Caminhar por estrada lisa é avançar. Querer saltar barrancos é arriscar-se a cair dentro deles.

     Para tudo há esperar tempo e oportunidade. Que de longos anos, que de longos séculos de preparação, para fatos que emergem agora naturalmente a flux do progresso atual!

     Será cego o que se opuser à marcha do progresso, para o fazer parar; será louco o que pretender contrariá-la, para a fazer salvar, em saltos, épocas e estados necessários à sua evolução natural.

1 -  saturnal = orgia; festim de libertinagem; devassidão (nota do compilador)

 

UMA  INTELIGÊNCIA  SEM  BONDADE  É  COMO  FLOR  SEM  AROMA  E  LUZ  SEM  CALOR.  PODE  ENCANTAR  OS  SENTIDOS,  MAS  NÃO  FALA  AO  SENTIMENTO  NEM  AO  CORAÇÃO.

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