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PROGRESSÃO TERRESTRE

Comunicação de um Espírito instrutor - Revista Espírita de 1864)

     A progressão de todas as coisas conduz necessariamente à transubstanciação, e a mediunidade espiritual é uma das forças na natureza que lá fará chegar mais rapidamente o nosso planeta, porque deve, como todos os mundos, sofrer a lei da transformação e do progresso. Não só o seu pessoal humano, mas todas as suas produções minerais, vegetais e animais, seus gases e seus fluidos imponderáveis, também devem aperfeiçoar-se e se transformar em substâncias mais depuradas. A ciência, que já trabalhou essa questão tão interessante da formação deste mundo, reconheceu que não foi criado de uma palavra, como diz a Gênese, numa sublime alegoria, mas que sofreu, numa longa série de séculos, transformações que produziram camadas minerais de diversas naturezas. Seguindo a gradação dessas camadas, veem-se aparecer sucessivamente e se multiplicarem as produções vegetais; mais tarde encontram-se traços dos animais, o que indica que somente nessa época os corpos organizados tinham encontrado a possibilidade de viver.

     Estudando a progressão dos seres animados, como se fez com os minerais e os vegetais, reconhece-se que estes seres, a princípio mariscos, elevaram-se gradualmente na escala animal e que a sua progressão acompanhou a das produções e a da depuração do solo. Nota-se, ao mesmo tempo, o desaparecimento de certas espécies, desde que as condições físicas necessárias à sua vida não mais existem. Foi assim que, por exemplo, os grandes sáurios, monstros anfíbios, e os mamíferos gigantes, dos quais hoje só se encontram os fósseis, desapareceram completamente da Terra, com as condições de existência que as inundações lhes haviam criado. Sendo os dilúvios um dos meios de transformação da Terra, foram quase que gerais, isto é, durante um certo período, eles revolveram o globo e assim determinaram produções vegetais e fluidos atmosféricos diferentes. Assim como todos os seres orgânicos, o homem apareceu na Terra quando aí pôde encontrar as condições necessárias à sua existência.

     Aí para a criação natural pelas sós forças da natureza; aí começa o papel do Espírito encarnado no homem para o trabalho, pois deve concorrer para a obra comum; trabalhando para si próprio, deve trabalhar para a melhora geral. Assim vemo-lo, desde as primeiras raças trabalhar a terra, fazê-la produzir para suas necessidades corporais e, assim, determinar transformações em seu solo, em seus produtos, em seus gases e em seus fluidos. Quanto mais se povoa a Terra, tanto mais os homens a trabalham, a cultivam, a saneiam, tanto mais abundantes e variados são os seus produtos; a depuração de seus fluidos pouco a pouco leva ao desaparecimento das espécies vegetais e animais venenosas e nocivas ao homem, pois não podem subsistir num ar muito depurado e muito sutil para a sua organização, e não mais lhes fornece os elementos necessários à sua manutenção. O estado sanitário do globo melhorou sensivelmente desde a sua origem; mas como ainda deixa muito a desejar, é indício que melhorará ainda pelo trabalho e pela indústria do homem. Não é sem desígnio que este é levado a estabelecer-se nas regiões mais ingratas e insalubres; já tornou habitáveis regiões infestadas por animais imundos e miasmas deletérios; pouco a pouco as transformações que faz sofrer o solo conduzirão à depuração completa.

     Pelo trabalho o homem aprende a conhecer e dirigir as forças da natureza. Pode acompanhar-se na história o fio das descobertas e das conquistas do espírito humano e a aplicação delas feitas para as suas necessidades e satisfações. Mas seguindo essa fieira, deve notar-se, também, que o homem se desbastou, desmaterializou-se; e se se quiser fazer um paralelo entre o homem de hoje e os primeiros habitantes do globo, julgar-se-á do progresso já realizado; ver-se-á que quanto mais o homem progride, mais é excitado a progredir; e que a progressão está na razão do progresso realizado. Hoje o progresso marcha a grande velocidade e, forçosamente, arrasta os retardatários.

     Acabamos de falar do progresso físico, material, inteligente. Mas vejamos o progresso moral e a influência que este deve ter sobre o primeiro.

     O progresso moral despertou ao mesmo tempo que o desenvolvimento material, mas foi mais lento, porque o homem se achava em meio a uma criação exclusivamente material, tinha necessidades e aspirações em harmonia com o que o cercava. Avançando, sentiu o espiritual desenvolver-se e crescer em si, e, ajudado pelas influências celestes, começa a compreender a necessidade da direção inteligente do Espírito sobre a matéria; o progresso moral continuou o seu desenvolvimento e, em diferentes épocas, Espíritos adiantados vieram guiar a humanidade e dar um maior impulso à sua marcha ascensional. Tais são Moisés, os profetas, Confúcio, os sábios da Antiguidade, e o Cristo, o maior de todos, posto que o mais humilde na Terra. O Cristo deu ao homem uma ideia maior de seu próprio valor, de sua independência e de sua personalidade espiritual. Mas os seus sucessores, muito inferiores a ele, não compreenderam a ideia grandiosa, que brilha em todos os seus ensinamentos; materializaram o que era espiritual. Daí a espécie de statu quo moral, no qual parou a humanidade. O progresso científico e intelectual continua a sua marcha; o progresso moral arrasta-se lentamente. Não é certo que, desde o Cristo, se todos os que professaram a sua doutrina a tivessem praticado, os homens teriam evitado muitos males e hoje estariam moralmente mais adiantados?

     O Espiritismo vem acelerar o progresso, desvendando à humanidade os seus destinos; e já vemos a sua força pelo número de adeptos e a facilidade com que é compreendido. Ele vai conduzir a uma transformação moral ativa e, pela multiplicidade das comunicações mediúnicas, o coração e o Espírito de todos os encarnados serão trabalhados pelos Espíritos amigos e instrutores. Dessa instrução vai surgir um novo impulso científico, porque novas vias vão ser abertas à ciência, que orientará suas pesquisas para as novas forças da natureza, que se revelam; as faculdades humanas que já desenvolvem, desenvolver-se-ão ainda mais, pelo trabalho mediúnico.

     Inicialmente acolhido pelas almas ternas e inconsoladas pela perda de parentes e amigos, o Espiritismo o foi em seguida pelos infelizes deste mundo, cujo número é grande, e que foram encorajados e sustentados em suas provações por sua doutrina ao mesmo tempo suave e confortadora; assim, propagou-se rapidamente e muitos incrédulos admirados, que a princípio o estudaram como curiosos, se convenceram quando, por si mesmos, encontraram esperanças e consolações.

     Hoje os sábios começam a abalar-se e algum deles o estudam seriamente e o admitem como força natural até agora desconhecida; a ele aplicando sua inteligência e seus conhecimentos já adquiridos, farão a humanidade dar um imenso passo científico.

     Mas os Espíritos não se limitam à instrução científica; seu dever é duplo e eles devem, sobretudo, cultivar a vossa moral. Ao lado dos estudos da ciência, eles vos farão, e já fazem desde agora, trabalhar o vosso próprio eu. Os encarnados inteligentes e desejosos de progredir compreenderão que sua desmaterialização é a melhor condição para o estudo progressivo, e que sua felicidade presente e futura a isto está ligada.                                       

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