CARIDADE PARA COM OS CRIMINOSOS

Comunicações dos Espíritos Lammenais e ELISABETH DE FRANÇA.

PROBLEMA MORAL

     "Um homem está em perigo de morte; para o salvar é preciso arriscar a vida; sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se for salvo, poderá cometer novos crimes. Apesar disso devemos arriscar-nos para o salvar?"

     A resposta que se segue foi obtida na Sociedade Espírita de Paris, a 7 de fevereiro de 1862, pelo médium Sr. A. Didier:

     "Eis uma questão muito grave e que se pode apresentar naturalmente ao Espírito. Responderei de acordo com o meu adiantamento moral, pois que a isso estamos sujeitos - expor a vida mesmo por um malfeitor. A dedicação é cega, a gente socorre a um inimigo; então deve socorrer a um inimigo da sociedade, isto é, a um malfeitor. Credes, então, que é só a morte que a gente subtrai daquele infeliz? Talvez seja a sua vida passada inteirinha. Porque - pensem nisso - nesses rápidos instantes que lhe deslumbram os últimos minutos da vida, o homem perdido revê sua vida passada, ou antes, esta se ergue à sua frente. Talvez a morte chegue muito cedo para ele; a reencarnação talvez fosse terrível. Atirai-vos, pois, homens esclarecidos pela ciência espírita; atirai-vos, arrancai-o de sua danação e talvez então aquele homem, que talvez morresse blasfemando contra vós, se lance em vossos braços. Contudo, não pergunteis se o fará ou não: lançai-vos, porque, salvando-o, obedecereis a essa voz do coração que diz: "Tu podes salvá-lo: salva-o!".     Espírito LAMENNAIS

 

OBSERVAÇÃO: Por singular coincidência, recebemos, há alguns dias, a seguinte comunicação, dada no grupo espírita do Havre, tratando mais ou menos do mesmo assunto. Escrevem-nos que, em consequência de uma conversa a respeito do assassino Dumollard, o Espírito da Sra. Elisabeth de França1 que já havia dado várias mensagens, apresentou-se espontaneamente e ditou o seguinte:

     "A verdadeira caridade é um dos mais sublimes ensinos dados por Deus ao mundo. Deve existir entre os verdadeiros discípulos de sua doutrina uma fraternidade completa. Vós deveis amar os infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos se se arrependerem, como a vós mesmos, pelas falhas que cometerdes contra a sua lei. Pensai que sois mais repreensíveis e mais culpados que aqueles a quem recusais o perdão e a comiseração, pois muitas vezes eles não conhecem Deus como o conheceis e lhes será pedido menos do que a vós. Não julgueis. Oh! não julgueis, minhas caras amigas, porque o julgamento que fizerdes vos será aplicado ainda mais severamente e necessitais de indulgência para os pecados que incessantemente cometeis. Não sabeis que há muitas ações que são crimes ante os olhos do Deus de pureza e que o mundo nem considera faltas leves? A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem mesmo nas palavras de consolo com que a acompanhais; não é somente isto que Deus exige. A caridade sublime ensinada por Jesus Cristo também consiste na benevolência concedida sempre e em todas as coisas ao vosso próximo. Ainda podeis exercer essa virtude sublime para com muitas criaturas que apenas dão esmolas e que as palavras amorosas e consoladoras as encorajarão e conduzirão ao Senhor. Os tempos se aproximam - digo-o ainda - nos quais reinará a grande fraternidade neste globo. A lei do Cristo é a que regerá os homens: só ela será o freio e a esperança, e conduzirá as almas às moradas da bem-aventurança. Amai-vos, pois, como filhos de um mesmo pai; não façais diferença entre os outros infelizes, porque Deus quer que todos sejam iguais. Assim, a ninguém desprezeis. Deus permite que grandes criminosos estejam em vosso meio, a fim de que vos sirvam de ensino. Em breve, quando os homens forem conduzidos às verdadeiras leis de Deus, não haverá mais necessidade destes ensinos e todos os Espíritos impuros e revoltados serão espalhados por mundos inferiores, em harmonia com as suas inclinações."

     "A estes, de quem vos falo, deveis o auxílio das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não se deve dizer de um criminoso: "É um miserável; deve pagar na Terra; a morte que lhe infligem é muito suave para um ser de sua espécie". Não! não é assim que deveis orar. Olhai o vosso modelo - Jesus. Que dizia ao ver o malfeitor ao seu lado? Ele o lamentava; considerava-o um doente muito infeliz: estendia-lhe a mão. Na realidade tal não podeis fazer; mas ao menos podeis orar por esse infeliz; assistir o seu Espírito nos momentos que ainda deve passar na Terra. O arrependimento pode tocar o seu coração se orardes com fé. Ele é vosso próximo, tanto quanto o melhor dos homens; sua alma transviada e revoltada foi criada, como a vossa, à imagem de Deus perfeito. Assim, orai por ele. Não o julgueis - pois não o deveis. Só Deus o julgará".

 

ELISABETH DE FRANÇA - CÓPIA OBTIDA EM www.wikipedia.org/

 

(1) = Seu nome era Elisabeth-Philippine-Marie-Helène. Nasceu no palácio de Versalhes em 1764, tendo sido a última filha do Delfim Louis e de Marie Josephine de Saxe e, portanto, irmã de Luís XVI. Ficou órfã aos três anos de idade. Subindo ao trono, Luís XVI lhe deu o Castelo de Montreuil, mas viveu sempre junto ao rei, sobre o qual exerceu influência benéfica. Recusou casar-se com o Infante de Espanha e com o Duque de Aosta. Foi aprisionada com a família real. Depois da execução de sua cunhada, a rainha Maria Antonieta, cuidava da sobrinha. Separada desta, foi encerrada na Conciergerie, levada ao tribunal revolucionário a 9 de maio de 1794 e decapitada no dia seguinte. (Allan Kardec).

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