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 PRECE JUNTO A UM TÚMULO         

(Discurso proferido por Allan Kardec no enterro de seu amigo, Sr. Sanson - Revista  Espírita de 1862).

     “Deus Todo-Poderoso, que vossa misericórdia se estenda sobre a alma do Sr. Sanson, que acabais de chamar. Possam ser-lhe contadas as provas que sofreu na Terra, e as nossas preces abrandar e encurtar as penas que terá de sofrer como Espírito.

     Bons Espíritos que viestes recebê-la, e sobretudo vós, seu anjo da guarda, assisti-a, para ajudá-la a despojar-se da matéria; dai-lhe a luz e a consciência de si própria, a fim de a tirar da perturbação que acompanha a passagem da vida corpórea à espiritual. Inspirai-lhe o arrependimento das faltas cometidas e que lhe seja permitido o desejo de as reparar, a fim de apressar o seu progresso para a vida eterna bem-aventurada.

     Alma do Sr. Sanson, que acabais de entrar no mundo dos Espíritos, aqui estais entre nós; vedes e nos escutais, pois entre nós apenas se acha o corpo perecível que acabais de deixar e que em breve será pó.

     Esse corpo, instrumento de tantas dores, ainda lá está, ao vosso lado. Vós o vedes como o prisioneiro vê as cadeias de que acaba de se libertar. Deixastes o grosseiro invólucro sujeito às vicissitudes e à morte e apenas guardastes o invólucro etéreo, imperecível e inatingível pelos sofrimentos. Se já não viveis pelo corpo, viveis a vida do Espírito, que é isenta das misérias que afligem a humanidade.

     Não mais tendes o véu que encobre aos nossos olhos os esplendores da vida futura; d’agora em diante podeis contemplar as novas maravilhas, enquanto ainda estamos mergulhados nas trevas. Ides percorrer o espaço e visitar os mundos livremente, enquanto nos arrastamos na Terra, retidos pelo corpo à vossa frente e, em presença de tanta grandeza, compreendereis a vaidade de nossos desejos terrenos, de nossas ambições mundanas, de nossas alegrias fúteis, que os homens transformam em delícias.

     Entre os homens a morte não passa de curta separação material. Do lugar do exílio, onde nos retém a vontade de Deus, bem como os nossos deveres, nós vos seguimos em pensamento até onde nos for permitido, assim como vos unistes aos que vos precederam. Se não pudermos vos atingir, podereis vir a nós. Vinde, pois, entre aqueles que vos amam e que amastes. Sustentai-os nas provas da vida; velai pelos que vos são caros; protegei-os conforme o vosso poder e abrandai os seus pesares pelo pensamento de que agora estais mais feliz e pela consoladora certeza de estardes um dia reunido em um mundo melhor.

     Que vos seja possível, para a felicidade futura, ficar inacessível aos ressentimentos terrenos! Perdoai aos que cometeram faltas para convosco, como eles vos perdoam as que poderíeis ter cometido para com eles. Assim seja.”

                                                                                                                                                             PRÓXIMO                                                                                                                                                                                                               INÍCIO