Madre Teresa de Calcutá - Espírito evoluído

MISSÃO DA MULHER

 (Mensagem do Espírito Cárita - Revista Espírita de 1867) 

     Cada dia os acontecimentos da vida vos trazem ensinamentos de natureza a vos servir de exemplo e, contudo, passais sem os compreender, sem tirar uma dedução útil das circunstâncias que os provocam. Entretanto, nesta união íntima da Terra e do Espaço, dos Espíritos livres e dos Espíritos cativos, ligados à realização de sua tarefa, há desses exemplos, cuja lembrança deve perpetuar-se entre vós: é a paz proposta na guerra. Uma mulher cuja posição social atrai todos os olhares, vai-se, humilde irmã de caridade, levar a todos a consolação de sua palavra, a afeição de seu coração, a carícia de seus olhos. É imperatriz, sobre sua fronte brilha a coroa de diamantes e ela esquece a sua posição, esquece o perigo para acorrer ao meio do sofrimento e dizer a todos: “Consolai-vos, eis-me aqui! Não sofrais mais, eu vos falo; ficai sem inquietação, eu tomarei conta de vossos órfãos!...” O perigo é iminente, o contágio está no ar e, contudo, ela passa, calma e radiosa, em meio a estes leitos, onde jaz a dor. Nada calculou, nada apreendeu, foi onde a chamava o coração, como a brisa vai refrescar as flores murchas e reerguer as hastes vacilantes.

     Este exemplo de devotamento e de abnegação, quando os esplendores da vida deveriam engendrar o orgulho e o egoísmo, é por certo, um estimulante para as mulheres que sentem vibrar em si essa esquisitice de sentimento que Deus lhe deu para cumprir sua tarefa. Porque elas estão encarregadas principalmente de espalhar a consolação e, sobretudo, a conciliação. Não têm a graça, e o sorriso, o encanto da voz e a suavidade da alma? É a elas que Deus confia os primeiros passos de seus filhos; ele as escolheu como as nutrizes das doces criaturas que vão nascer.

     Este Espírito rebelde e orgulhoso, cuja existência será uma luta constante contra a desgraça, não lhes vem pedir que lhe inculque outras ideias que não as que traz ao nascer? É para elas que estende suas mãozinhas, e sua voz, outrora rude e seus acentos, que vibraram como um cobre, adoçar-se-ão como um doce eco, quando disser: mamãe!

     É a mulher que ele implora, esse doce querubim, que vem aprender a ler no livro da ciência; é para lhe agradar que fará todos os esforços para se instruir e tornar-se útil à humanidade. É ainda para ela que estende as mãos, esse jovem que se transviou na estrada e quer voltar ao bem. Não ousará implorar a seu pai, cuja cólera teme, mas sua mãe, tão suave, tão generosa, não terá para ele senão esquecimento e perdão.

     Não são elas as flores animadas da vida, os devotamentos inalteráveis, essas almas que Deus criou como mulheres?  Atraem e encantam. Chamam-nas a tentação, mas deviam chamá-las a lembrança, porque sua imagem fica gravada em caracteres indeléveis no coração dos filhos, quando não mais estão. Não é o no presente que são apreciadas: é no passado, quando a morte as leva a Deus. - então seus filhos as buscam no espaço, como o marinheiro busca a estrela que o deve conduzir ao porto. Elas são a esfera de atração, a bússola do Espírito retido na Terra e que espera encontrá-las no céu. São ainda a mão que conduz e sustenta, a alma que inspira e a voz que perdoa e, assim como foram o anjo do lar terreno, tornam-se o anjo consolador que ensina a orar.

     Oh! vós que tendes sido fatigadas na Terra, mulheres que sois tidas como escravas do homem, porque vos submetestes a sua dominação, vosso reino não é deste mundo! Contentai-vos, pois, com a sorte que vos está reservada; continuai vossa tarefa; ficai as medianeiras entre o homem e Deus, e compreendei bem a influência de vossa intervenção. - Este é um Espírito ardente, impetuoso; o sangue lhe ferve nas veias vai se exaltar, será injusto; mas Deus pôs a doçura em vossos olhos, a carícia em vossa voz. Olhai-o, falai-lhe; a cólera se apaziguará e a injustiça será afastada. Talvez tenhais sofrido, mas tereis poupado uma falta ao vosso companheiro de jornada e vossa tarefa foi cumprida. Aquele ainda é infeliz, sofre, a fortuna o abandona, julga-se um pária!... Mas aí há um devotamento à prova, uma abnegação constante para erguer esse moral abatido, para dar a esse Espírito a esperança que o havia abandonado.

     Mulheres, sois as companheiras inseparáveis do homem; com ele formais uma cadeia indissolúvel que a desgraça não pode romper, a ingratidão não deve manchar, e não poderia quebrar-se, porque o próprio Deus a formou e, posto às vezes tenhais na alma essas preocupações sombrias, que acompanham a luta, contudo rejubilai-vos, porque nesse imenso trabalho de harmonia terrena, Deus vos deu a mais bela parte!

     Coragem, pois! Ó vós que viveis humildemente, trabalhando por melhorar vosso interior, Deus vos sorri, porque vos deu essa amenidade que caracteriza a mulher; quer sejam imperatrizes, irmãs de caridade, humildes trabalhadoras ou suaves mães de família, estão todas sob a mesma bandeira e levam na fronte e no coração estas duas palavras mágicas, que enchem a eternidade: Amor e Caridade.      INÍCIO