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O SONHO DO "STARTSI" - Parábola         

(Comunicação do Espírito Leão Tolstoi - Médium Yvonne Pereira - Obra: Ressurreição e Vida). 

Nota do compilador: Lev (Leão) Nikolaievitch Tolstói, Léon (em francês), (1828-1910), escritor russo. Autor de Guerra e Paz, Anna Karenina,  Ressurreição e outros, é o grande escritor, minucioso, da prática e da alma russa. Idealista e místico, procurou reencontrar a caridade do cristianismo primitivo. Como Espírito tem nos brindado com belos romances, geralmente passados na sua Rússia. Trata-se de um Espírito evoluidíssimo.

"Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial." (MATEUS, 5:48.)

"Aprendei comigo, que sou brando e humilde de coração, e achareis repouso para vossas almas." (MATEUS, 11:29.)

     Uma lenda russa do tempo de Paulo I1 conta que um santo “Startsi”2, muito preocupado com o estado precário das suas ovelhas penitentes, que semanalmente se ajoelhavam aos seus pés para serem ouvidas em confissão e receberem a absolvição dos pecados cometidos no espaço de sete dias, resolveu fazer penitência diária durante um ano. A penitência impunha-lhe o dever de abster-se de comer, de beber e de dormir durante dois dias na semana, alternadamente, passando outros dois em trabalhos forçados, também alternados, nos campos da Comunidade, onde se cultivavam o trigo e o centeio, os nabos e as batatas, as couves e as uvas, e os três dias restantes diante do altar da Virgem, em súplicas veementes. E tudo isso para que o Senhor se apiedasse dele e dos fiéis, permitindo que, em sonhos,  lhe fosse revelado, por algum bom anjo-mensageiro, o meio de afastar as ditas ovelhas da impiedade dos pecados para a submissão ao Bem e ao Amor.

     Ouvindo-as em confissão tantas e tantas vezes ao ano, inteirara-se de que eram avarentas e luxuriosas, ambiciosas e egoístas, intemperantes3 e perdulárias, blasfemas e invejosas, odientas e ímpias, caluniadoras e trapaceiras, hipócritas e rapaces4, adúlteras e traidoras, ébrias e preguiçosas, mentirosas e orgulhosas, vaidosas e ciumentas, algumas predispostas ao crime, capazes de incendiarem as “deciatinas”5 cultivadas do vizinho somente porque as suas próprias “deciatinas" nem eram tão numerosas nem tão produtivas como as daquele.

     Em vão o bom “Startsi” aplicara no caso os seus conselheirais dogmas, alongando sermões de alta teologia sobre a inconveniência do pecado, ameaçando-as com a excomunhão do Santo Patriarca da “Santa Rússia”6 e os tormentos do Inferno daí consequentes, se não procurassem arrepender-se da má vida que levavam, dedicando-se em definitivo ao cumprimento do dever para consigo mesmas e o próximo. Em vão, também, prometera o Paraíso e suas arcangélicas delícias para as que abandonassem o coração e os costumes aos doces apelos do Bem, renunciando aos furtos, às trapaças nas compras e vendas, às rixas e questiúnculas que já, por várias vezes, haviam atirado com algumas delas para os trabalhos forçados da Sibéria. Os paroquianos a nada atendiam, embora temessem o Inferno, desejassem o Paraíso e venerassem o seu “Startsi”, sem as absolvições do qual não saberiam viver.

     Desanimado com o estado de coisas e consciente das responsabilidades que pesavam sobre os seus ombros, como condutor de almas para Deus, que se prezava de ser, pôs-se o santo homem assim em expiações e humildades, no intuito de atrair sublimes revelações que lhe indicassem o remédio a aplicar ao mau estado das suas ovelhas, a quem tanto queria. Mas, os Céus nunca se apressam a nos descerrar os véus das suas revelações... e um dos motivos de tal demora é que aqueles que além vivem, fora das atrações do globo, e dirigem, espiritualmente, a Humanidade, permanecem no eterno hoje, agitam-se na eternidade do momento presente, ao passo que o homem sofre a angústia das horas, dos séculos e dos milênios.

     Finalmente, vencido que fora um ano da sua rude penitência, justamente às vésperas das comemorações do Santo Natal, teve o seguinte sonho-revelação o confiante “Startsi” da “Santa Rússia”:

     - Mal conciliara o sono na sua modesta cela (o “Startsi” era virtuoso e não se cercava de muito conforto). Parcamente alumiada por uma lâmpada de azeite, posta diante do “ícone”7 de um tosco nicho da parede, distinguiu que súbita claridade penetrava na cela e um anjo ali entrava, tomava-o pela mão e arrebatava-o para o Espaço, em glorioso voo de alma eleita.

     Surpreendido, o “Startsi” percebia que a noite caliginosa8 e tétrica, que sempre se abatera sobre a sua fria província de Tula9, transformava-se em suave alvorecer azul-pálido, com o espaço todo pintalgado de focos luminosos, multicores, formando caprichosos desenhos, enquanto longínquas melodias pareciam cadenciar o movimento rotativo daqueles pontos feéricos, que se diriam gemas de valor incalculável a dançarem ignotos bailados na imensidão. Mais admirado ainda, perguntou ele ao anjo que o conduzia pela mão:

     - Que visão surpreendente será essa, “paizinho”?... Porventura terei enlouquecido durante o sono?... Onde estamos?...

     E o anjo-guia respondeu, tão simples como se respondesse a qualquer pergunta banal de todos os dias:

     - Esta é a visão do Universo Sideral... Estes pontos luminosos, distantes da Terra muitos bilhões, trilhões, sextilhões de léguas, são astros poderosos de força, de vida, de calor, de atração e repulsão e equilíbrio, de harmonia e magnetismo divino... São os sóis que povoam o Infinito; as estrelas, centros de gravitação que comandam e dirigem os mundos habitados pelas Humanidades filhas de Deus; são os satélites que, por sua vez, representam outras tantas estâncias de vida, de beleza, de harmonias sem-fim... São também os sistemas planetários, famílias por vezes numerosas de astros; e são as constelações, joias da Criação Suprema... E as nebulosas, continentes que se formam nos abismos do Universo, onde turbilhões de sistemas, de sóis, de planetas, de estrelas feéricas, de fluidos cósmicos e matérias ígneas, em elaborações ininterruptas, preparam galáxias futuras, onde rebrilharão novos sóis, novas constelações e mais decilhões e centilhões de planetas em reproduções sempiternas, para a glória de Deus!... E em todos eles também existem vida e trabalho, progresso e evolução, equilíbrio e leis; Humanidades que fruem delícias, que amam, mas que também erram e sofrem e expiam pecados; que batalham contra as próprias paixões, desejosas de vencer a si mesmas para se ofertarem ao Bem; que reparam erros e se redimem através do Amor e do Trabalho!... Isto é o Céu!... Viajamos, pois, através do Céu!

     Mais que admirado, porque deslumbrado, o bom homem, ou a sua alma indagou ingenuamente, duvidando da realidade da grande aventura em que se via envolvido:

     - Então estamos mesmo no Céu?...

     - Pois estamos no Céu... - repetiu o anjo.

     - Mas... - voltou o “startsi”, embaraçado -, e onde se encontram o trono do Pai Eterno e as onze mil virgens da sua corte, os anjos, os arcanjos, os querubins e os serafins... e os outros santos?...

     Sorridente, e com a mesma simplicidade, tal se habituado estivesse à mesma indagação diariamente, retornou o guia, paciente:

     - Este mesmo é o trono do Eterno: o Universo Sideral!... E as virgens, os anjos, os arcanjos, os querubins e os serafins e os outros santos somos nós mesmos... depois de termos dominado nossas más paixões... São todos aqueles que já compreenderam plenamente e assimilaram com boa vontade as leis de Deus e suas determinações, unificando-se com o Bem...

     - “Paizinho”, essas angelicais personagens não são, então, seres à parte, na Criação, especialmente criados para servirem e glorificarem a Deus Pai, na sua corte?...

     - Não! Pois não são! Sendo a Suprema Justiça, Deus criou todos nós iguais uns aos outros, isto é, partindo de um mesmo princípio para alcançarmos a mesma finalidade, porque dotados todos com as mesmas possibilidades de vitória! Sua glória é a Criação! Somos nós todos a sua glória! Nós, que atingiremos culminâncias futuras de semideuses, porque justamente somos sua imagem e semelhança! Digo-te mesmo, em verdade, que sempre que utilizarmos nossas faculdades - essenciais dos atributos dele próprio -, em sentido do Bem, estaremos glorificando o Senhor, seremos anjos e arcanjos...         

     Mas haviam chegado a determinado local do Universo Infinito, sítio indescritível, onde o elemento era a Luz consorciada ao Amor. Outros celestes guias se aproximaram, dispostos a concederem aulas a outros tantos "Startsis", a filósofos, a pastores de almas, a professores, a pensadores e a pais e mães de família, que ali igualmente se encontravam graças a um sonho idêntico ao dele. E o Velho monge viu, então, admirado, no desenrolar da aula, que o Tempo retrocedia... Tanto retrocedia o Tempo, tanto e tanto, que a Terra voltara atrás na idade e que, em vista disso, chegara ao ponto em que Jesus cristo ainda não descera até ela para ensinar aos homens a sua Doutrina de reeducação, para a possibilidade da salvação. Percebeu também, através da mesma aula que, ali, no sítio celeste onde se encontrava, movimentação desusada verificava-se, como se arcanjos e serafins se preparassem para um extraordinário evento, e observou um grupo de seres da mais alta elevação, aqueles justamente que se entenderiam como sendo as Virtudes Celestes originárias do próprio Ser Supremo, e que adornam o coração de Jesus desde o princípio das coisas, desde antes mesmo da criação da Terra. Esses seres, que encarnariam as Virtudes, eram a Fé, a Esperança, o Amor (também chamado Caridade),  a Humildade,  a Paciência,  a Justiça,  a Razão, o Dever, o Perdão, a Misericórdia, a Bondade, a Beneficência, a Compaixão, a Abnegação, a Renúncia, a Temperança, a Perseverança, a Dedicação, a Lealdade, a Sinceridade, a Sabedoria, a Doçura, a Mansidão. Esses rodeavam Jesus, eram a sua comitiva pessoal, seguindo-o para onde quer que ele fosse, e o velho confessor ouviu o seguinte debate entre eles:

     - Nosso Amado Senhor far-se-á homem por bem-querer a seus irmãos menores que encarnaram, e aos quais prometeu, ao Todo-Poderoso Criador, educar e, consequentemente, elevar à glória do seu reino de Luz - principiou o Amor, preocupado sempre com o bem-estar alheio.

     - Consta-me que Ele, o Bem-Amado, habitará certo planeta de um pequeno sistema solar da Via-Láctea, aquela nebulosa imensa e graciosa, de sóis tão belos... adveio a Esperança, comumente otimista e amável, cheia de boa vontade.

     - Sim, é verdade que o Bem-Amado seguirá para lá muito breve. O planeta chama-se Terra, é pequenino e pobre... e a julgar pelas suas estreitas dimensões, pelas modestas dimensões do sistema solar a que pertence e do local restrito que a nebulosa denominada Via-Láctea, à qual pertence, ocupa nos abismos do Universo Sideral, deve ser insignificante e muito novo... No entanto, é certo que se trata de mais uma joia do mesmo universo a que todos pertencemos, porque nosso Criador e Pai somente realiza o que será imensamente precioso, útil, belo, magnífico! - ponderou a Sabedoria, cujo espírito positivo é esteio poderoso da Humanidade em qualquer tempo e em qualquer situação.

     - Pertencemos ao Bem-Amado Mestre. Somos Virtudes suas... Havemos, portanto, de partir com Ele na sua próxima peregrinação ao planeta denominado Terra... Justo será, pois, que investiguemos esse mundo novo da Via-Láctea, que ainda nem conheceu um Redentor; que o examinemos e apreciemos, observando as possibilidades que nos poderá oferecer, uma vez que ali desempenharemos espinhosas missões sob o critério de nosso Bem-Amado, e em torno do coração da Humanidade que nele habita... Proponho, pois, que o visitemos agora e lá esperemos o Mestre, inspirando o coração dos homens, assim suavizando a asperidade da sua missão... - interveio a Razão, sempre grave e prudente.

     - Sim! Partamos! Visitemos a Terra! - aplaudiram as demais Virtudes.

     E um bando resplandecente de seres formosos, como arcanjos, pôs-se a volitar pelo Espaço Sideral à procura da nebulosa Via-Láctea, onde o planeta que receberia o Bem-Amado deveria, desde milhares de séculos (pois era muito novo), estar fazendo o giro em torno do seu foco gerador, chefe do sistema planetário a que pertenceria.  

     Pelo trajeto, cada anjo-guia ensinava seus protegidos a admirarem a obra do Cosmo: os espaços infinitos povoados de fluidos, gases, magnetismo, essências de variados graus e dimensões, matérias rarefeitas, elementos imponderáveis, mas reais e concretos para os seres alados, forças, energias;  com seus  poderosos sóis e turbilhões de  estrelas  faiscantes;  suas  nebulosas  geradoras  de mundos;  suas galáxias imensas, prodigiosos livros onde reliam a sempiterna potência do Criador, na sua gloriosa ação; seus sistemas de sóis e planetas exuberantes de vida e harmonias eternas!  

     Finalmente, penetraram a Via Láctea, para onde se destinavam... e, meio aturdido, destacou, reanimado pelo bom anjo instrutor, a pequena constelação do Altar, localizada, precisamente, numa ponta da Via Láctea. Estava ali o sistema solar de que a Terra é um dos pequenos participantes. Para lá se dirigiram, rápidos, e o extasiado "Velho Monge", após contemplar os diversos planetas do sistema,  chegou até a Terra. Murmurou então o anjo-mensageiro, gravemente, aos ouvidos do seu protegido: - Meu amigo, muitos de vós, os da Terra, tendes viajado por alguns destes mundos, que acabas de contemplar... Em suas sociedades falistes, expiastes erros, chorastes, amastes, progredistes! Porfiais, agora, na prática do Bem, iluminai vossos Espíritos com o aprendizado do Saber...   

     As Celestes Virtudes puseram-se, então, a examinar a Terra e a consideraram um pequeno Paraíso. (reinos vegetal, mineral, animal, oceanos...).

     Muito satisfeitos com o que descobriram, e louvando a Deus pela sua gloriosa Criação, os angelicais seres resolveram, então, examinar o Homem, para quem tão caprichoso paraíso fora ideado e concretizado pela sabedoria divina.

     - O Homem deve ser obediente e amoroso filho do Eterno, visto que mereceu fazer a sua evolução em retiro planetário aprazível como este... - exclamou sorridente, o Amor, invariavelmente otimista e benevolente.

     - ... E também trabalhador e idealista, pois o Criador presenteou-o com excelentes elementos de progresso, ao conceder-lhe existência neste lindo rincão sideral... - adveio a Esperança, sempre confiante nos sucessos alheios.

     - Acredito que, além de tudo isso, ele seja também fiel aos princípios da própria origem, porquanto, sendo uma centelha divina, carregará consigo poderes, possibilidades inestimáveis para colaborar com as vontades superiores do Infinito, tendo em vista igualmente o progresso do planeta que lhe foi franqueado para o aprendizado da evolução... - lembrou a Lealdade, habituada a julgar os outros por si.

     - Não percamos tempo em suposições... Examinemos primeiramente o Homem, investigando se encontraremos clima em seu coração para nos abrigarmos, à espera de Jesus... Lembremo-nos de que o Eterno é a Suprema Bondade e concede dádivas sublimes a todos os seus filhos, ainda que eles não as mereçam... - obtemperou a Prudência, sempre comedida nos entusiasmos.

     - Sim, examinemos o Homem... - concordaram todos.

     E se puseram, então, a acompanhar esse feliz soberano da Terra, o Homem, em todos os seus passos e ações, desde o procedimento na intimidade do lar doméstico até a conduta nas lides profissionais e os desempenhos sociais, ansiosos por se agasalharem em seu coração, a fim de suavizarem os sacrifícios de Jesus, que desceria à Terra em missão especial, para benefício do próprio Homem. À proporção que o faziam, entretanto, insólitas angústias conturbavam os seus luminosos semblantes, chocando-os profundo desapontamento. Nenhuma daquelas excelsas Virtudes conseguiu insinuar-se no caráter humano, para viver com ele no seio da estrelinha azul que o Altíssimo criara para servi-lo. Sabiam que o Homem fora, por sua vez, criado à imagem e semelhança do próprio Criador, e que, por isso mesmo, deveria abrigar no coração as qualidades que traduzem a sua origem. Mas observavam decepcionados, que, criado pelo Amor Supremo e para o destino de amar, nem era amorável nem generoso; nem humilde nem piedoso; nem fervoroso nem razoável; nem paciente nem abnegado; nem perseverante nem desinteressado; nem dedicado nem sincero. Revelava-se, ao contrário, ambicioso e cruel; violento e invejoso; luxurioso e devasso; orgulhoso e hipócrita; rapace e infiel; ciumento e dissimulado; adúltero e traidor; intrigante e sanguinário; incrédulo e blafesmo! E compreenderam, desolados, que não conseguiriam asilo no coração de tais feras, mais nocivas entre si do que aquelas observadas na solidão das matas e nas profundidades do Oceano!

     - Como assim? - soluçava o Amor, inconsolável. - O homem, derivação do Amor Supremo, mantém-se então alheio aos princípios que o geraram e às finalidades a que se destina?...

     - Regressemos ao páramo10 celeste - concertaram todos. - Peçamos ao Bem-Amado nos explique tão confuso paradoxo: originário da Virtude Suprema, por que o Homem se apraz na miséria moral?...

     Retornaram, então, ao posto sideral do Amor e da Luz os arcanjos que, em essência, se denominam Virtudes, e reverentes e chorosos suplicaram a Jesus:

     - Bem-Amado! Acabamos de visitar o planeta onde ingressarás a fim de dares cumprimento à grandiosa missão que teu Pai te confiou. Tudo ali é belo, generoso, grandioso, magnificente, útil, sublime! Somente o Homem, para a felicidade de quem tantas magnificências foram criadas, se detém na ignomínia do mal... Não encontramos em seu coração possibilidades de ali edificarmos um pouso para facilitarmos tua missão de Redentor... E, no entanto, sabemos que será necessário que habitemos o coração do Homem, porque também sabemos que ele, criado à imagem e semelhança de nosso Pai, não poderá permanecer alheado de nós outros, visto que urge se torne uno contigo, como tu próprio és uno com o Pai... Que fazer, então?... Oh! que fazer para que o Homem nos aceite em seu coração, tornando-se virtuoso?...

     Sorriu o Bem-Amado, com o seu sorriso de Luz, e respondeu docemente:

     - Não vos aflijais... Por isso mesmo descerei até eles... Para ensinar-lhes os códigos do reino dos Céus... Não são maus, como tendes julgado... São apenas ignorantes, crianças que crescem, almas vacilantes em trabalhos de evolução, necessitadas de educação... Hão de evolver, mas sua evolução será obra dos séculos... Ensinar-lhes-ei a  Verdade  contida em minha Doutrina... A Doutrina que aprendi de meu Pai... Mostrar-lhes-ei, com exemplos, o caminho certo que deverão trilhar para se tornarem dignos de retratarem a imagem e a semelhança do Altíssimo... Amá-los-ei até ao sacrifício, para que aprendam que no Amor é que se encontra toda a ciência da Vida... Dar-lhes-ei a minha Doutrina, que os educará para o reino de Deus através dos séculos, pois essa é a missão de que fui investido... Vós ireis comigo, e o meu Evangelho e os meus atos falarão do vosso valor e da vossa beleza diante de Deus... E quando eu regressar para meu Pai, após deixar com eles os meus ensinamentos... possuirão possibilidades de vos compreenderem e agasalharem eu seus corações... pois eu sou o caminho do Amor, da Verdade e da Vida Eterna...

Notas do compilador: 1 - Paulo I (Paulo I Petrovitch - 1754-1801 = Imperador da Rússia, filho de Pedro III e Catarina II. Foi assassinado;  2 - Startsi = monge;  3 - Intemperantes = dissolutas, que não são sóbrias;  4 - rapaces = que roubam;  5 - deciatinas = medida agrária russa;  6 - Santa Rússia = Rússia imperial;  7 - ícone = nas igrejas russa e grega, imagem sagrada;  8 - caliginosa = muito densa e escura, tebebrosa;  9 - Tula = cidade ao Sul de Moscou, atualmente com cerca de 500.000 habitantes;  10 - Páramo = Firmamento.

Os grifos são de responsabilidade do compilador.

O  ERRO  É  DAQUELES  QUE,  NÃO  LEVANDO  EM  CONTA  O  PROGRESSO  DAS  IDÉIAS,  CRÊEM  PODER  GOVERNAR  HOMENS  MADUROS  COM  AS  ANDADEIRAS  DA  INFÂNCIA

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