Exercício de beija-flor - Foto iap

CONSELHOS DE FAMÍLIA

(Mensagem de um Espírito familiar - Revista Espírita de 1860).

     Tenham confiança em Deus e busquem instruir-se nas verdades eternas e imutáveis, que lhes ensina o livro divino da Natureza. Ele contém toda a lei de Deus, e os que sabem ler e compreender, seguem apenas o caminho verdadeiro da sabedoria. Nada do que veem seja desprezado, pois cada coisa traz em si um ensinamento e deve, pelo uso do raciocínio, elevar a alma para Deus e dele aproximá-la. Em tudo quanto ferir a inteligência, procurem sempre distinguir o bem do mal: o primeiro, para o praticar; o segundo, para o evitar. Antes de formular um julgamento, voltem sempre o pensamento para o ETERNO, que os guiará ao bem, E NÃO OS ENGANARÁ JAMAIS.

     Se me amais, procurai instruir-vos; reuni-vos muitas vezes com este pensamento. Ponde vossas ideias em comum: é um excelente meio, pois em geral só trocamos as coisas que julgamos boas. A gente se envergonha das más: assim, são guardadas em segredo ou só são comunicadas aos que queremos tornar cúmplices. Distinguem-se os bons dos maus pensamentos, porque os primeiros podem, sem receio, ser transmitidos a todo o mundo, ao passo que os últimos não poderiam, sem perigo, ser comunicados senão a alguns. Quando vos vier um pensamento, para julgar de seu valor, perguntai-vos se podeis torná-lo público sem inconveniente e se não fará mal. Se vossa consciência vo-lo autorizar, não temais, vosso pensamento é bom. Dai-vos bons conselhos mutuamente, e nisto só tendo em vista o bem daquele a quem os dais, e não o vosso. Vossa recompensa estará no prazer que experimentais em serdes úteis. A união dos corações é a mais fecunda fonte de felicidades; e, se muitos homens são infelizes, é que só procuram a felicidade para si mesmos. Ela lhes escapa precisamente porque julgam só encontrá-la no egoísmo. Digo a felicidade e não a fortuna, porque, até aqui, esta última só tem servido como sustentáculo à injustiça, e o objetivo da existência é a justiça. Ora, se a justiça fosse praticada entre os homens, o mais afortunado seria aquele que realizasse maior número de boas obras. Se, pois, quiserdes tornar-vos ricos, meus filhos, praticai muitas ações boas. Pouco importam os bens do mundo: não é a satisfação da carne que se deve buscar, mas a da alma. Aquela é efêmera; esta, eterna.

     Tende confiança em Deus, que jamais abandona os que fazem o bem. Aquilo que julgais um mal, com frequência só o é em relação às vossas concepções. Também, às vezes, o mal real vem apenas de um desânimo ocasionado por uma dificuldade, que a calma de espírito e a reflexão teriam evitado. Assim, refleti sempre e, como já vos disse, referi tudo a Deus. Quanto experimentais qualquer pesar, longe de vos abandonardes à tristeza, ao contrário, resisti e fazei todo esforço para triunfar, pensando que nada se obtém sem trabalho, e que muitas vezes o sucesso é eriçado de dificuldades. Invocai o auxílio dos Espíritos benevolentes. Eles não podem, como vos ensinam, fazer boas obras em vosso lugar, nem obter algo de Deus para vós, pois é preciso que cada um ganhe, por si mesmo, a perfeição a que todos estamos destinados; mas podem inspirar-vos o bem, sugerir-vos conduta conveniente e ajudar-vos com seu concurso. Não se manifestam ostensivamente, mas no recolhimento. Escutai a voz da vossa consciência, lembrando-vos de meus conselhos precedentes. Confiança em Deus, calma e coragem.

     Persuadi-vos, meus filhos, de que, em geral, o que se entende na Terra por Espírito, só é Espírito para vós. Depois que esse Espírito, ou alma, se separa da matéria grosseira que o envolve, para vós não tem mais corpo, porque vossos olhos materiais não mais o veem. Mas é sempre matéria, relativamente aos mais elevados que ele. Para vós, crianças, vou fazer uma comparação muito imperfeita, mas que, entretanto, vos poderá dar uma ideia da transformação, a que impropriamente chamais morte. Imaginai uma lagarta, que vedes diariamente. Esgotado o tempo de sua existência, ela se transforma em crisálida; passa algum tempo nesse estado e depois, chegado o momento, se despoja de seu invólucro, e dá origem a uma borboleta, que voa. Ora, a lagarta, ao deixar sua natureza grosseira, representa o homem que morre; a borboleta representa a alma que se eleva. A lagarta arrasta-se no chão; a borboleta voa para o céu. Mudou de matéria, mas ainda é material. Se a lagarta raciocinasse, não veria a borboleta que, entretanto, teria saído da carapaça apodrecida da crisálida. Assim, o corpo não pode ver a alma; mas a alma, envolta em matéria, tem consciência de sua existência e o próprio materialista por vezes a sente inteiramente. Então seu orgulho o impede de concordar e fica com sua ciência sem crença, sem se elevar, até que, enfim, lhe chegue a dúvida. Então nem tudo está acabado, porque nele a luta é maior. É apenas uma questão de tempo. Porque, amigos, eu vo-lo repito, todos os filhos de Deus foram criados para a perfeição. Felizes os que não perdem tempo pelo caminho. A eternidade é feita de dois períodos: o da prova, que poderia chamar-se de incubação, e o da eclosão, ou entrada na vida verdadeira, que chamais a felicidade dos eleitos.

     Aconselhei-vos a calma e a coragem; contudo, nem todos as mostrais, tanto quanto deveríeis. Pensai que o lamento não acalma a dor: ao contrário, esta tende a aumentar. Um bom conselho, uma boa palavra, um sorriso, um simples gesto, dão força e coragem. Uma lágrima amolece o coração, em vez de endurecê-lo. Chorai, se o coração a isto vos impele; mas que seja antes nos momentos de solidão, e não em presença dos que necessitam de toda a sua força ou energia, que uma lágrima ou um suspiro podem diminuir e enfraquecer. Todos necessitamos de encorajamento, e nada mais próprio a nos encorajar que uma voz amiga, um olhar benevolente, uma palavra vinda do coração. Quando vos aconselhei a vos reunirdes, não foi para reunísseis vossas lágrimas e amarguras; era apenas para vos incitar à prece, que prova uma boa intenção; foi para que unísseis os vossos pensamentos, vossos esforços mútuos e coletivos; para que mutuamente vos désseis bons conselhos, e para que, em comum, procurásseis, não o meio de vos entristecer, mas a marcha a seguir para vencer os obstáculos que se vos apresentam. Em vão um infeliz que não tem pão se prostrará a rogar a Deus a substância que não cairá do céu. Que ele trabalha e, por pouco que obtenha, isto lhe valerá mais que todas as preces. A prece mais agradável a Deus é o trabalho útil, seja qual for. Eu o repito: a prece apenas prova uma boa intenção, um bom sentimento, mas só produz um efeito moral, desde que é toda moral. É excelente como um consolo da alma, porque a alma que ora sinceramente encontra na prece um alívio às dores morais: fora destes efeitos e dos que decorrem da prece, como vos expliquei em outras instruções, nada espereis, pois sereis iludidos em vossa esperança.

     Segui, pois, exatamente os meus conselhos. Não vos contenteis em pedir a Deus que vos ajude: ajudai-vos vós mesmos, pois assim provareis a sinceridade de vossa prece. Seria muito cômodo, na verdade, que bastasse pedir uma coisa nas preces para que ela vos fosse concedida! Seria o maior incentivo à preguiça e à negligência das boas ações. A respeito, eu poderia estender-me ainda mais; seria, porém, muito para vós. Vosso estado de adiantamento ainda não o comporta. Meditai sobre esta instrução, como sobre as precedentes, pois são de natureza a ocupar longamente os vossos espíritos: elas contêm em germe tudo quanto vos será desvendado no futuro.

O  VIVO  QUE  MORRE,  DESPERTA  E  VÊ  QUE  É  ESPÍRITO

                                                                                                                                             PRÓXIMO                                                                                                              INÍCIO

 

.