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A CLAREZA

 

(Comnicação do Espírito Sonnez - Revista Espírita 1867).     

 

     Conceder-me-eis hospitalidade para a vossa primeira sessão de 1866? Eu desejo com o abraço fraterno, vos apresentar votos amigos; que possais ter muitas satisfações morais, muita vontade e caridade perseverante. Neste século de luz, o que mais falta é clareza! Os meio-sábios, os papões da imprensa fizeram valentemente o trabalho da aranha, para obscurecer, por meio de um tecido supostamente liberal, tudo o que é claro, tudo o que aclara.

 

     Caros Espíritas, encontrastes em todas as camadas sociais esta força de raciocínio que é a marca inteligente dos seres realizados? Ao contrário, não tendes a certeza de que a grande maioria de vossos irmãos se atola numa ignorância malsã? Por toda a parte as heresias e as más ações? As boas intenções, viciadas em seu princípio, caem uma a uma, semelhantes a esses belos frutos, cujo âmago um verme rói e o vento joga por terra. A clareza nos argumentos, no saber, acaso teria escolhido domicílio nas academias, entre os filósofos, os jornalistas e os panfletários?... Parece-me que se poderia duvidar, vendo-os, a exemplo de Diógenes, de lanterna à mão, procurar uma verdade em pleno sol.

 

     Luz, claridade, vós sois a essência de todo movimento inteligente! Em breve inundareis com os vossos raios benfazejos os mais obscuros recantos desta pobre humanidade; sois vós que tirareis do lodaçal tantos terrícolas pasmados, embrutecidos, espíritos infelizes, que devem ser lavados pela instrução, pela liberdade, sobretudo pela consciência de seu valor espiritual. A luz expulsará as lágrimas, as penas, os desesperos sombrios, a negação das coisas divinas, todas as más vontades! Cercando o materialismo, ela o forçará a não mais abrigar-se atrás dessa barreira fictícia, carcomida, de onde arremessa desajeitadamente suas setas sobre tudo quanto não é obra sua.

 

     Mas as máscaras serão arrancadas e então saberemos se os prazeres, a fortuna e o sensualismo são mesmo os emblemas da vida e da liberdade. A clareza é útil em tudo e a todos; no embrião como no homem é necessário a luz! sem ela tudo marcha tateando e, tateando, a alma busca a alma.

 

     Que se faça uma noite eterna! logo as cores harmoniosas desaparecerão do vosso globo, as flores estiolar-se-ão, as grandes árvores serão destruídas; os insetos, a natureza inteira não mais darão esses mil ruídos, a eterna canção de Deus! os regatos banharão barrancas desoladas; o frio terá tudo mumificado, a vida terá desaparecido!...

 

     É o mesmo para o Espírito. Se fizerdes noite em seu redor, ele ficará doente; o frio petrificará suas tendências divinas; como na idade média, o homem embotar-se-á, semelhante na alma às solidões selvagens e desoladas das regiões boreais!

 

     É por isto, Espírita, que vos deveis a todas as clarezas. Mas antes de aconselhar e ensinar, começai logo por esclarecer os menores refolhos de vossa alma. Quando, bastante depurados para nada temer, podereis elevar a voz, o olhar, o gesto, fareis uma guerra implacável à sombra, à tristeza, à ausência de vida. Ensinareis as grandes leis espíritas aos irmãos que nada sabem do papel que Deus lhes confere.

 

     1866, possas, para os anos a seguir, ser esta estrela luminosa, que conduzia os reis magos para o berço de uma humilde criança do povo. Eles vinham render homenagem à encarnação que devia representar, no mais largo sentido, o Espírito de Verdade, essa luz benfeitora, que transformou a humanidade. Por esse menino tudo foi realizado! É bem ele que eterniza a graça e a simplicidade, a caridade, a benevolência, o amor e a liberdade.

 

     O Espiritismo, também estrela luminosa, deve, como aquela que há dezoito séculos, rasgou o véu sombrio dos séculos de ferro, conduzir os terrícolas à conquista das verdades prometidas. Saberá ele bem se desvencilhar das tempestades que nos prometem as evoluções humanas e as resistências desesperadas da ciência em apuros? É o que vós todos, meus amigos, e nós, vossos irmãos da erraticidade, somos chamados a melhor acusar, inundando este ano com as claridades adquiridas.

 

     Trabalhar com este objetivo é ser adepto do Menino de Belém, é ser filho de Deus de quem emanam toda a luz e toda a clareza.

 

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