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 O CASTIGO

 

(Espírito Georges - Revista Espírita de 1860).

 

     Os Espíritos maus, egoístas e duros, logo após a morte, são entregues a uma dúvida cruel sobre o seu destino presente e futuro; olham em torno de si e, a princípio, não veem nenhum assunto sobre o qual possam exercer a sua influência má e o desespero se apodera deles, porque o isolamento e a inação são intoleráveis para os maus Espíritos; não levantam o olhar para os lugares habitados pelos puros Espíritos; consideram o que os cerca, e em breve, tocados pelo abatimento dos Espíritos fracos e punidos, lançam-se a eles como a uma presa, armando-se com a lembrança de suas faltas passadas, frequentemente reveladas por seus gestos irrisórios. Não lhes bastando esta zombaria, caem sobre a Terra como abutres esfaimados; procuram entre os homens a alma que dará mais fácil acesso às suas tentações: delas se apoderam, exaltam-lhe a cobiça, procuram extinguir a fé em Deus e quando, enfim, donos de sua consciência veem a presa dominada, estendem sobre tudo o que se aproxima de sua vítima o contágio fatal.

    

     O Espírito mau que dá vazão à sua raiva é quase feliz; apenas sofre nos momentos em que não age ou quando o bem triunfa sobre o mal.

    

     Entretanto, passam os séculos; o mau Espírito sente-se de súbito invadido pelas trevas. Aperta-se o seu círculo de ação, sua consciência, até então muda lhe faz sentir as pontas aceradas do arrependimento. Inativo, arrastado no turbilhão, vaga, sentindo, como diz a Escritura, o pelo de sua carne se eriçar de pavor; em breve um grande vazio se faz nele e ao seu redor; chegado o momento, deve expiar; lá está, ameaçadora, a reencarnação; ele vê, como numa miragem, as provas terríveis que o esperam; quereria recuar, mas avança e, precipitado no abismo escancarado da vida, rola apavorado até que o véu do desconhecimento lhe cai sobre os olhos. Vive, age, ainda culpado; sente em si não sei que lembrança inquieta, que pressentimentos que o fazem tremer, mas não fazem recuar no caminho do mal. Esgotado de forças e de crimes, vai morrer. Estendido sobre o catre ou sobre o leito, que importa! o homem culpado sente, sob aparente imobilidade, mover-se e viver um mundo de sensações esquecidas! Sob as pálpebras fechadas, vê surgir um clarão, ouvir sons estranhos; sua alma, que vai deixar o corpo, agita-se impaciente, enquanto as mãos crispadas procuram agarrar-se aos lençóis; quereria falar, gritar aos que o cercam: Segurem-me! vejo o castigo! Não pode: a morte se fixa sobre os lábios descorados, e os assistentes dizem: Ei-lo em paz!

    

     Entretanto, ouve tudo; flutua ao redor do corpo que não quer abandonar; uma força secreta o atrai; vê, reconhece o que já viu. Transtornado, lança-se no espaço, onde quer esconder-se. Não há mais retiro! Não há mais repouso! Outros Espíritos lhe devolvem o mal que ele fez e, castigado, ridicularizado, confuso por sua vez, ele erra e errará até que o divino clarão deslize sobre seu endurecimento e o esclareça, para lhe mostrar o Deus vingador, o Deus triunfante de todo o mal, que ele só poderá apaziguar à força de gemidos e expiações.

 

Obs.: Nunca foi esboçado um quadro mais eloquente, mais terrível e mais verdadeiro da sorte do mau. É então necessário recorrer à fantasmagoria das chamas e das torturas físicas? ( ALLAN KARDEC ).  

 

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