CARIDADE TOTAL

(Comunicação do Espírito Alves Mendes - Médium: Fernando de Lacerda - Obra: Do País da Luz -  www.febeditora.com.br/)    

     Não há mais bela virtude.                                                                                                                          

     Nela se resumem todas, porque todas dimanam dela, como em nosso sistema solar toda a luz irradia do Sol.

     A caridade é o bálsamo que consola todas as dores; o manto que tapa toda a nudez; o auxílio que socorre toda a miséria; o pão que mitiga toda a fome; a água que sacia toda a sede; a luz que ilumina toda a treva; a força que anima toda a fraqueza; o sentimento que penetra todos os corações; a riqueza ao alcance de todos os mendigos.

     Como nem só de pão vive o homem, nem só é caridade a que se resume na esmola. Caridade é consolar os tristes, confortar os que sofrem, encorajar os tíbios, perdoar aos que erram, ensinar os que ignoram, levantar os que caem, suster os que tombam, amparar os que fraquejam.

     Caridade é fazer justiça, é corrigir o defeito, é animar o tímido, é proteger o ousado, é exalçar a verdade, é enobrecer o humilde, é semear a paz, é pugnar pelo bem, é estabelecer a concórdia, é servir o amor, é esquecer agravos, é desculpar as faltas alheias, e é, acima de tudo, adorar a Deus.

     Como adorar a Deus? Pois em adorar a sede suprema de toda a caridade, existe caridade? Existe.

     Se é caridade tudo que se pense, que se obre, que se deseje, que se peça, em benefício dos outros, não é menos caridade a que se tiver para conosco próprios. E amar a Deus é ter caridade para conosco.

     É do amor que lhe temos, que há de sair o ânimo para o servirmos, e do modo como o servirmos há de resultar o serviço que poderemos prestar aos outros; e desse amor e deste préstimo há de vir a nossa mercê.

     Se bem amarmos a Deus bem o havemos de servir, e para bem o servirmos havemos mister praticar a caridade, nas suas mais variadas manifestações de bondade, de amor e de conforto. E depois todos nós somos mais pecadores do que os outros. Pelo menos assim nos devemos julgar, porque conhecemos melhor as nossas faltas, do que as dos estranhos; e as faltas que se conhecem, ainda que sejam leves, são sempre maiores do que as que se ignoram.

     O que é ignorado é como que se não existisse.

     Como o homem, na Terra, só é homem desde que nasce, a flor só é flor desde que desabrocha, o rio só é rio desde que corre, o dia só é dia desde que o carro de ouro do Sol aparece, as coisas só começam a ser desde que se descobrem e, por isso, a falta só é falta quando se conhece.

     A maior parte das vezes é só conhecida pelo que a pratica, e isso basta para que seja falta, e para que para ela haja mister caridade.

     Não é preciso que o nosso vizinho conheça a nossa fraqueza para que nós a conheçamos e a procuremos remediar. A consideração do nosso vizinho não é maior do que a nossa, e realmente nós não tememos a apreciação dele: - a que tememos, a que nos punge, a que nos acusa, é a nossa.

     Se em nossa consciência não temos o respeito por nós próprios, também nos não importa o dos outros. O respeito dos outros está em nosso amor pela nossa própria individualidade e pelo conceito que dela queremos que tenham.

     Podem os estranhos ter por nós toda a veneração, que se ela não encontra eco em nosso peito e em nosso cérebro, é como se não existisse. Será como brocados e pedrarias a enfeitarem um morto.

     Se temos faltas que perturbem o nosso sossego ou distraiam a nossa meditação tranquila, nada há fora do nosso ser que no-las faça esquecer. Falta existente, sabida só por nós, é maior do que falta presumida por todo o mundo e que não exista. Para essas que nos afogam no seu charco, que nos esmagam com o seu peso, que nos torturam na sua engrenagem, que nos dilaceram com as suas invisíveis garras, é que virá o alívio em nosso amor a Deus, e na caridade, que pela nossa caridade, Ele para conosco tiver.

     Não sei de sentimento mais vasto do que o da caridade. Amamos as criancinhas frágeis, doentes, rotinhas, famintas, de pele engelhada sobre os ossos em atrofiado crescimento? Temos caridade.

     Amamos as criancinhas rosadas, felizes, travessas, impertinentes; desculpamos-lhes as suas maldades, perdoamo-lhes os seus atrevimentos, servimo-lhes os seus caprichos, satisfazemo-lhes os seus desejos? Temos caridade.

     Amamos os velhinhos trôpegos, de cabeça alva como flocos de espuma, no inverno da vida, despidos de ilusões como as árvores despidas de folhas, de braços descarnados, que se elevam ao céu, numa prece de despedida, como os troncos desnudados das árvores em dezembro despedindo-se das derradeiras folhas que os vestiram e alindaram? Temos caridade.

     Visitamos os encarcerados e os enfermos, levando-lhes lembranças que os alegrem no meio da sua tristeza, e palavras que os consolem e lhes aliviem os sofrimentos, como raios de luz que lhes iluminem a escuridão do seu viver? Temos caridade.

     Amamos o nosso semelhante, amamos o nosso inimigo, amamos os animais das raças inferiores, amamos as plantas, somos compassivos, somos tolerantes, somos generosos? Temos caridade.

     A esmola que se lança às escondidas, na mão rugosa e suja da mendiga; o auxílio que se presta ao amigo em ocasião difícil; o sacrifício que se faz por alguém em qualquer oportunidade; o conselho que se dá a quem necessita de guia; o lume que se presta a um desconhecido; o sal que se dá ao vizinho pobre; o caminho que se desempeça ao viandante; o percurso que se ensina ao caminheiro; o incitamento feito a quem se meta em empresa útil, é tudo caridade.

     Ilumina ela mais do que o Sol, porque brilha de noite, brilha nas minas subterrâneas, brilha nas mansardas, brilha nas tocas, brilha na dor, brilha até na morte; e o Sol brilha só onde não encontre coisa que lhe impeça a marcha.

     Para o brilho da caridade nada há que faça sombra, e para ofuscar o do Sol basta uma débil folha de rosa, uma microscópica asa de inseto alado, a fita solta de uma renda preciosa.

     E, se brilha mais do que o Sol, mais do que o Sol ela aquece também, porque aquece sempre, e - generosa caridade! - aquece tanto mais quanto mais afastado anda o astro-rei das criaturas carecidas de calor.

     Onde ela chega cessa o sofrimento, dilui-se a dor, desaparece o abatimento.

     Servida pelos bons, amada pelos tristes, desejada pelos sofredores, cantada pelos poetas, exercida pelos santos, venerada pelos justos, adorada pelos simples, pregada pelos profetas e querida por Deus, ela é o que de mais modesto, mais emocionante, mais precioso existe. Simples dentro da sua grandeza; grande dentro da sua simplicidade.  

     Brilha sem ofuscar, aquece sem queimar, refresca sem gelar, socorre sem rebaixar, serve sem vexar, guia sem enganar, aconselha sem ofender, corrige sem molestar, destaca-se sem se impor.

     Entraja-se na modéstia, dá escondendo a mão, aparece velando o rosto. Visita os prostíbulos, os palácios, os ergástulos, as espeluncas, as igrejas, as oficinas, os hospitais, as minas, os mares, os sertões, os presídios, as escolas, e até o cadafalso, sempre humilde, sempre solícita, sempre afetuosa, sempre boa.

     Quem conhece, pois, virtude de mais realce, riqueza de mais valor, afeto de mais merecimento, luz de mais irradiação, manto que mais cubra, carinho que mais conforte, princípio que mais enobreça, religião que mais sirva e serviço maior da religião?

     Toda a palavra, toda a obra do nosso Divino Mestre, rútilo farol com que Deus vem iluminando tantos mundos, pode caber dentro desta palavra tão curta e tão simples - caridade.

     Toda a lição cristã se resume em amar a Deus sobre todas as coisas, e o próximo mais do que a nós mesmos; e este preceito, que é uma maravilha de filosofia, de verdade e de amor, cabe dentro da caridade como o homem cabe no óvulo fecundado, o cedro do Líbano na microscópica semente de que germina e a luz que ilumina o espaço cabe na estrela de que irradia.

     Ela é a mater de todos os sentimentos puros, de todos os afetos santos.        

     Alva como a neve, e como a neve: - pura.

     Com ela não se pode misturar sentimento ou ação ruim que a não desvirtue, enodoe ou transforme.

     Desconhece o interesse, repele o egoísmo e abomina a crueldade.

     Existe no amor de mãe, no carinho filial, na dedicação do sábio, na abnegação do missionário, na bondade da mulher, na retidão do juiz, no sacrifício do pai, na amizade do amigo e até na piedade, na comiseração, do desconhecido.

    Em tudo onde haja vida e amor existirá a caridade.

     Ela é a fada linda e branca de todas as coisas; a parte sã e preciosa de todos os organismos inteligentes; é a emanação divina, o fluido universal que Deus espalhou pelo infinito, para adoçar, corrigir, modificar, as asperezas, os desequilíbrios, as desigualdades humanas, reveladas no homem, na família, na sociedade, no mundo; é o bálsamo para todas as dores, o obreiro de toda a paz, o antídoto de todo o mal.

     Filha dileta de Deus, é o anjo de níveas asas que Ele lançou por esse Universo fora, para melhorar a triste condição do corpo e do espírito humano.                                                                             INÍCIO                     PRÓXIMO

     É, enfim, a Caridade.   

CADA  VIDA  TERRESTRE  É  UMA  ESCOLA,  A  ESCOLA  PRIMÁRIA  DA  ETERNIDADE                                                                                                                                                                                                                                                           EM  TUDO  ONDE  HAJA  VIDA  E  AMOR,  EXISTIRÁ  A  CARIDADE