A TERRA

(Autor: Victor Hugo - Obra: Do Calvário ao Infinito - Médium: Zilda Gama).

     A Terra - o mísero grão de areia que baila nos ares ao influxo do Sol, qual pequenina mariposa ao redor de intenso combustor - no transcurso, dos evos futuros não terá, ao todo, senão três pátrias distintas - os Continentes, tendo por linhas delimitadoras apenas os Oceanos, cada um deles concretizando - ó França querida! - os dizeres do teu lema inspirado pelos mensageiros divinos - Liberdade, Igualdade, Fraternidade, tríade sublime que constitui o anelo das almas nobres e funde-se num só vocábulo - Amor - que, hoje, parece utopia, mas essa considerada utopia é o sonho do Criador, e, o que Ele sonha ou deseja, será uma luminosa realidade porvindoura!...

     Então, ninguém mais será fratricida ou duvidará da pluralidade das existências, tendo de remir no futuro os delitos do passado obscuro e remoto. Ninguém mais quererá saldar débitos que terá de saldar penosamente, com prantos e duras provas. Todos compreenderão que, aqui, as criaturas humanas se congregam, para laborar em comum por seu progresso espiritual, para resgate de dívidas tenebrosas, para se harmonizarem, e não têm pátrias fixas, são aves nômades, partem para onde floresça a Primavera, esquecem os berços primitivos que lhes recordam o Inverno - a penúria, as expiações tremendas - até que, depois de adquiridas todas as virtudes, cumpridos todos os deveres sacrossantos, burilados os Espíritos pelo sofrimento remissor, recordam-se de todos os seus estágios, de todos os países em que mourejaram e padeceram, fundindo-os em um só, que amam santamente, sem exclusivismo, como o Cristo amava a Humanidade - este planeta, um dos degraus que formam a escada incomensurável que todas as lamas têm de galgar em busca do Ente Supremo!

     Saberão que os Espíritos, quando libertos dos grilhões mundanos, andorinhas imortais, fugidas às ásperas invernias da Terra - onde deixam seus sudários putrescíveis - buscam asilo em ninhos distantes, isto é, em regiões suaves, onde poderão viver serenamente, sem os rigores polares das provas planetárias.

     Essas pátrias de doçura inefável e sem estações frígidas, não existem neste orbe - e sim, além, onde pulsam os corações de ouro das estrelas...    

     Sonhando com essa Primavera, todas as almas que a ela aspiram sempre, desfar-se-ão do egoísmo, do sectarismo, da impureza, dos sentimentos ignóbeis - correntes brônzeas que as vinculam aos sofrimentos terrenos - e partirão exultantes, em demanda da Luz e da Felicidade eternas...

     Que lhes importa, então, um fragmento de solo, larvado de sepulcros, ao qual se acham apenas aprisionados pelos liames de reminiscências pungentes? Aqui virão, apenas, em cumprimento de excelsas missões, para guiar seus antigos companheiros de cativeiro às plagas da Liberdade eterna. Aqui, então, já não hão de imperar mais as forças armadas, mas o Direito e a Justiça.

     Os soldados destruidores serão rendidos pelos paladinos do Bem e da Paz... e este orbe, maculado tantas vezes com massacres e morticínios inúmeros, será uma das mansões de harmonia e labor do Cosmos, à qual virão acrisolar-se os Espíritos secularmente votados ao Mal, rebeldes e ferozes, degredados, há muito, em mundos de trevas, em calabouços do Universo...

     Partamos, agora, diletos amigos, para a região que sempre viverá nos escaninhos de nossas almas - Aprémont - e, lá, longe deste cenário lúgubre em que os pensamentos nobres e altruísticos ricochetam à mente, como fagulhas estelares interceptadas por abóbada de chumbo, murados pelas impurezas que desprendem os que se odeiam, os que sucumbem sem se voltar para o Pai celestial, sem uma prece, blasfemando, às vezes), faremos rogativas fervorosas por todos os combatentes, por todos os que se acham em agonia, por todos os desencarnados, indistintamente, vencedores e vencidos, nossos irmãos em Deus...

O  HOMEM  DEVE  ABSTER-SE  DO  SUPÉRFLUO  EM  TUDO:  -  NA  ALIMENTAÇÃO  COMO  NO  VESTIR,  NO  GOZO  COMO  NA  ALEGRIA,  NA  OSTENTAÇÃO  DA  VIRTUDE  COMO  NA  PRÁTICA  DO  VÍCIO.                                                                                                                          PRÓXIMO                                                                                                        INÍCIO