Monumento Schumann - cemitério de Bonn - www.wikipedia.org/

Clara Schumann - Esposa de Robert Schumann - Foto de um postal. A pintura original em pastel foi feita por Franz Spranger em 1879 quando Clara tinha 59 anos. Teve 7 filhos. Clara foi uma grande pianista. Enviuvou aos 46 anos após a morte de Robert num sanatório psiquiátrico.

A MULHER É A FAMÍLIA

(Mensagem do Espírito Étienne Baluze - Revista Espírita - 27/10/1865)                  

     Em minha última comunicação eu vos tinha mostrado nas mulheres sob dois aspectos e tinha acrescentado que a instrução numas, e a ignorância noutras tinham produzido resultados negativos. Não obstante, há sérias exceções, que parecem desafiar a regra. Há moças que sabem estudar e tirar proveito do que ensinam os mestres. Estas nem são vãs nem levianas; sua constante distração não é um adorno ou uma fita! - Alimentadas por lições fortes e sérias, gostam do que engrandece o espírito, o que lhes dá a calma íntima, essa calma dos fortes e das naturezas generosas.

     No casamento preveem a família; chamam com todos os votos o filho bem amado, o bem-vindo, não para abandonar e o atirar aos cuidados interesseiros, mas para lhe sacrificar suas vidas inteiras. O recém-nascido é o centro de tudo; para ele, o primeiro pensamento; para ele, as carícias e as preces ardentes, as noites sem sono, os dias muito curtos, nos quais se preparam os mil e um detalhes que serão o bem-estar do novo encarnado. A criança é o estudo, o amor sob mil formas. O esposo torna-se amável; esquece o rude labor do dia ou as distrações mundanas, para amparar os primeiros passos da criança e dar uma forma às suas primeiras sílabas. Respeito, pois, as exceções exemplares, que sabem desafiar a tentação e fugir dos prazeres para se devotarem e viver como mães divinamente inteligentes.

     Humildes e pobres operárias; corações ulceradas, que amais a vossa única esperança: vosso filho! haveria muito a dizer de vossa abnegação, do vosso profundo sentimento do dever, da vossa mansuetude ante os aborrecimentos de cada dia!

     Nada vos desanima para consolar o anjinho; ele é para vós a força e o trabalho e esse sublime egoísmo que vos faz sacrificar noite e dia.

     Mas se a religião, ou antes, os diversos cultos unidos à instrução, não puderam destruir no rico e no pobre essa tendência geral para mal viver e ignorar o objetivo da vida, é que nem os cultos, nem a instrução souberam, até hoje, impressionar vivamente a infância. Falam-lhe constantemente de interesses inimigos. Os pais que lutam contra as necessidades da vida se explicam ante esses corações jovens com uma crueza cínica. Apenas têm a percepção das primeiras palavras, já sabem que se pode ser colérico, arrebatado, e que o interesse pessoal é o centro em torno do qual gira cada indivíduo. Essas primeiras impressões os exploram largamente... Religião e instrução serão, daí em diante, palavras vãs, se não tenderem, a despeito de tudo, a aumentar o bem-estar e a fortuna!

     E quando levamos a todos os ecos o pensamento espírita, pensamento que desperta todas as paixões generosas, pensamento que dá uma certeza como um problema de matemática, riem-nos na cara! Supostos liberais montam-se em pernas de pau para nos achar ridículos!... somos modelos de inépcia, loucos... bons para meter num hospício. E os apóstolos da liberdade de pensamento de boa vontade empurrariam a autoridade, auxiliada pelo Código Penal, a perseguir esses iluminados que rebaixam o bom senso público!

     Felizmente a opinião das massas não pertence a uma família, nem a um escritor; ninguém tem direito a ter mais espírito e bom senso que todo o mundo e nestes tempos em que simples folhetinistas pretendem rachar de alto a baixo os teólogos, os filósofos, o gênio sob todas as formas, o bom senso na sua mais alta expressão, acontece que cada um quer saber por si mesmo. Corre-se sempre aos homens e às coisas dos quais pior se fala; e, depois de haver lido e ouvido, põem-se de lado todos os panfletos insolentes, todas as insinuações malévolas, para render homenagem à verdade que toca a todos os espíritos.

     E é por isto que o Espiritismo se engrandece sob os vossos golpes. As famílias nos aceitam e nos bendizem. Um pai laborioso, se tiver um filho realmente espírita, não o verá, como no passado, desertar de casa para ser vagabundo. Não será ele quem arruinará a família, venderá a consciência ou renegará as leis sagradas do respeito devido à mulher e à criança. Sabe que Deus existe; conhece as leis fluídicas do Espírito e a existência da alma com todas as suas consequências admiráveis. É um homem sério, probo, fraterno, caridoso e não um palhaço bem educado, traidor da vida, de Deus, dos amigos, dos pais e de si mesmo.

     As mães serão realmente mães; penetradas do espírito espírita, serão a salvaguarda das filhas amadas. Ensinando-lhes o papel magnífico que estão chamadas a desempenhar, dar-lhe-ão a consciência de seu valor. O destino do homem lhes pertence de direito e, para cumprir esse dever, terão que se instruir, a fim de mobiliar dignamente o filho que Deus envia. Saber não será mais o corolário dos desejos desenfreados e de vontades vergonhosas, mas, ao contrário, complemento da dignidade e do respeito à sua pessoa. Contra tais mulheres, que poderão as tentações e as paixões desregradas? Para égide, terão Deus a o direito e, além disso, essa aquisição superior, que nos vem das coisas superiores.

     Ora, que é a mulher, senão a família; e que é a família senão a nação? Tais mulheres, tal povo.    

     Queremos, pois, criar o que destruístes pelos extremos. A idade média tinha diminuído a mulher pela superstição. Vós, senhores livres pensadores, pelo ceticismo!... Nem uma nem outro são bons! Nós moralizamos de começo; levantamos a liberdade, a mulher, para depois instruí-la. Vós quereis instruí-la sem a moralizar!

     E é por isto que a geração atual vos escapa, e as mães de família em breve não serão mais uma exceção.                   

INÍCIO          PRÓXIMO

Étienne Baluze - Editor, historiador, bibliotecário e advogado. 1630/1718