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A FÉ                                

O HOMEM, CONSCIENTE DE SEU DESTINO, NÃO PRECISA SUBORDINAR SUA RAZÃO A NENHUM DOGMA PARA EXERCER A SUA CRENÇA EM DEUS E SUAS LEIS

      (Mensagem do Espírito Demeure - Revista Espírita de 1865)

     A fé plana sobre a Terra, buscando uma pousada onde abrigar-se, buscando um coração a esclarecer. Onde irá ela?... Para começar entrará na alma do homem primitivo e impor-se-á; porá um véu momentâneo sobre a razão, começando a se desenvolver e vacilante nas trevas do espírito. Conduzi-lo-á através das idades de simplicidade e far-se-á senhora pelas revelações. Mas, não estando ainda o raciocínio bastante amadurecido para discernir o que é justo do que é falso, para julgar o que vem de Deus, ela arrastará o homem fora do reto caminho, tomando-o pela mão e pondo-lhe uma venda nos olhos. Muitos desvios, tal deve ser a divisa da fé cega que, entretanto, durante muito tempo teve sua utilidade e sua razão de ser.

     Esta virtude desaparece quando a alma, pressentindo que pode ver com os próprios olhos, a afasta e não mais quer marchar senão com a sua razão. Esta a ajuda a se desfazer das crenças falsas, que havia adotado sem exame. Nisto ela é boa. Mas o homem, encontrando em seu caminho muitos mistérios e verdades obscuras, as quer atravessar e se atrapalha. Seu julgamento não a pode acompanhar; ele quer ir muito depressa e a progressão em tudo deve ser insensível. Assim, não tem mais a fé que repeliu; não tem mais senão a razão que quis ultrapassar. Então faz como a borboleta temerária e queima as asas na luz e se perde nos desvios impossíveis. Daí saiu a má filosofia que, buscando muito, fez tudo esboroar-se e nada substituiu.

     Estava aí o momento da transformação; o homem não era mais o crente cego e não era ainda o crente raciocinando a crença; era a crise universal tão bem representada pelo estado da crisálida.

     À força de procurar na noite, a claridade brilha, e muitas almas transviadas, encontrando apenas a luz obscurecida por tantos desvios inúteis e retomando como guias seus condutores eternos: a fé e a razão, fazem-nos marchar à sua frente, a fim de que seus dois clarões reunidos os impeçam de se perder uma segunda vez. Elas fazem assentar a fé sobre as bases sólidas da razão, ela própria ajudada pela inspiração.

     É a vossa época, meus amigos; segui o caminho, Deus está no fim.

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