Adoração dos pastores - Autor: Gerard van Honthorst (1622) - Fonte: www.wikipedia.org/
ELES NÃO MORRERAM
(Autor: Espírito Victor Hugo - Divaldo P. Franco - Obra: Párias em Redenção).
Muita falta faz o Cristianismo na Humanidade, imensurável falta!
As manifestações religiosas que grassam comprazem-se em assegurar a vida física quase sempre em detrimento das realidades espirituais. O homem, em consequência disso, adia meditações em torno do problema da desencarnação, como se fora uma realidade remota, sempre distante, e, invariavelmente, deixa-se colher pelo fenômeno morte sem o necessário preparo espiritual para a jornada na direção da realidade.
Diante de um ser amado que partiu da Terra, na hora em que o amor arde no coração, quem não há interrogado sobre a grande viagem, essa marcha que antes diziam seguir na direção do Desconhecido?
Ao se apagarem as lâmpadas dos olhos e ante o silêncio dos lábios que se agitavam na emoção e pronunciavam melodias de esperanças, cantos de sorrisos, fitando-se o peito que já não se agita, quantas interrogações não afloram às mentes que ficaram, dolorosas, pungentes, desesperadoras?
Relacionando as oportunidades da convivência física e emocional com aqueles que agora estão reduzidos à lama, e, começo, e logo mais a cinza que o pó consome, arrependimentos tardios e lancinantes evocações afloram às mentes, desejosas de refazer, de ter as oportunidades que não voltarão, a fim de retificarem enganos e desconcertos. O imenso silêncio que impera, símbolo significativo da magnitude do túmulo, desafia a frieza do materialismo e a empáfia dos partidários da existência única, que se deixam então vencer pelo peso do indesejável acontecimento.
Em tais ocasiões, ecoam sem vida as preces memorizadas e soam sem tônica de paz ou esperança as palavras “sacramentais”, fúnebres e descoloridas como o passar das eras que as articularam.
Nesses momentos, porém, quando se supõe que o amor desfaleceu e a vida se extinguiu, ou somente poderão reaparecer em estados-limites impostos pelas determinações dos dogmas humanos, ergue-se triunfante, além das sombras, a madrugada da Vida, facultando ao ser ressurgir dos escombros, vestido pela indumentária eterna que elaborou na Terra.
O espírito triunfa do corpo e recomeça o caminho momentaneamente interrompido. Do silêncio dos lábios e da acústica fechada irrompem, além das vibrações físicas, novas modulações e o amor reaparece glorioso, em gáudio e vitória, entretecendo novas esperanças e construindo imprevisíveis realizações.
Em hipótese alguma morrer é parar, finar, consumir-se.
A vida sobrepõe-se à morte e domina todas as paisagens.
Por isso é que o amor, emanação do Excelso Pai, acende a claridade da alegria e dirige os que tombaram, após reerguê-los e ampará-los longe dos limites das sombras, das dores, das paixões alucinadas.
Em nome desse Amor não se interrompem os programas do afeto, nem se arrebentam os liames da antipatia necessitada de destruição; antes, aumentam os recursos do intercâmbio e se multiplicam as possibilidades da ventura, surgindo e ressurgindo ensejos de construir a perene felicidade, que a todos espera, na dependência do tempo empreendido no burilamento pessoal, intransferível.
Atestam tais fatos, hoje como ontem, os Espíritos que retornaram e ainda voltam, predicando a conquista do bem sobre o mal e o triunfo do amor em todas as suas expressões, como aurora indestrutível e inapagável de luzes e bênçãos inefáveis.
Exultai, todos vós, que perdestes temporariamente os vossos seres queridos, arrebatados pelo veículo da desencarnação. Eles não morreram! Atravessaram a grande aduana, que também vos espera, e enquanto isso trabalham por vós e por eles, preparando o vosso amanhã. Se sofrem, por equívocos a que se entregaram, retemperam o ânimo para novas jornadas; se são felizes, repartirão convosco as suas dádivas. Confiais e laborai! O amanhã é o nosso dia, que hoje começa, pedindo-nos seriedade e abnegação na conquista da nossa felicidade!